Há 23 anos, Miguel Carraro Neto vê a Cooperativa Vinícola Garibaldi passar por mudanças. Há momentos em que elas são decorrentes de novas estratégias. Em outros, são adaptações necessárias em função da velocidade que o mundo evolui e, é claro, de surpresas como a pandemia. Mas há algo que, aconteça o que acontecer, nunca muda: “o nosso objetivo é dar uma vida melhor ao associado”.
É assim há nove décadas. Em 2021, a Cooperativa Vinícola Garibaldi completa 90 anos com uma estrutura sólida, produtos premiados e o mesmo propósito. Gerente comercial, Miguel atende de São Paulo pra cima. E é um apaixonado pelo legado da cooperativa onde trabalha. “Eu me envolvi muito com a história, fui pesquisar sobre os outros presidentes e gosto de ouvir o associado. Quando os clientes vêm nos visitar, eu sempre levo na casa de um associado, é lá que nós almoçamos”, conta ele.
Isso é feito para que o cliente perceba que a Garibaldi não vende apenas uma garrafa com bebida. “Aquela garrafa tem várias mãos, ela começa lá na uva que o nosso associado planta”. Propósito. Tanto se fala dessa palavra atualmente na internet e em palestras. Na Garibaldi, ele é nato. Por lá, o foco no associado não é só uma frase dita ou escrita na parede, é a realidade de todos os dias.
Uma mudança que exemplifica isso aconteceu em 2000, quando Oscar Ló assumiu a presidência. Miguel conta que antes dessa data, havia apenas a preocupação de pegar a uva do associado, transformar em vinho e vender. “A cooperativa desovava a uva, não estava focada em tipos de clientes ou qualidade de produtos. O Oscar assumiu com o intuito de mudar essa ideia”, ressalta. O trabalho feito dali até agora reúne diversos passos que são ensinamentos para quem está à frente da gestão de um negócio.
O primeiro deles foi a preocupação em agregar valor ao produto. Conscientes de que tinham na sua marca o nome da cidade considerada a Capital Nacional do Espumante, em 2003 foi criada a linha de espumantes Garibaldi. “Era uma marca muito forte que estava sendo usada para produtos de garrafão”, lembra Miguel. Essa primeira mudança deu muito certo. A linha de entrada é bastante difundida e recebeu mais de 200 prêmios nos últimos anos. Só em 2021, já foram mais de 50, no Brasil e no Exterior, e o espumante deve ser o produto que vai fechar o ano com o maior faturamento, superando o suco de uva.
O segundo foi estruturar melhor a forma de distribuição dos produtos. A cooperativa passou a buscar novos canais de venda e melhorou o departamento comercial. Miguel viveu essas mudanças. “Alteramos a forma de nos posicionar, de vender e de apresentar os nossos produtos”, afirma.
O terceiro passo é o mais importante e uma consequência dessa mudança no perfil da cooperativa: a qualidade de vida do associado melhorou. Com a preocupação em agregar valor ao produto, o perfil de quem planta a uva também foi mudando. Miguel conta que uvas comuns passaram a ser substituídas por variedades ideais para espumantes e a estrutura foi melhorando. “Conforme o faturamento foi crescendo, nós fomos chegando mais perto do nosso objetivo principal, que é melhorar a qualidade de vida do nosso associado. Esse propósito está acima da venda e do lucro da cooperativa. A valorização do produto aconteceu para que o dinheiro decorrente dela chegue no associado”, reforça.
Com isso, houve outra mudança importante. Os filhos de agricultores começaram a perceber que ficar no campo podia ser bom, porque o trabalho possibilitava uma vida digna. E isso foi tão intenso, que alguns que haviam saído voltaram para a propriedade dos pais. Hoje, são 432 famílias distribuídas em 11 municípios próximos de Garibaldi e 1,2 mil hectares de área. E quando os turistas chegam para fazer a degustação às cegas e os demais roteiros oferecidos no segmento de enoturismo da Garibaldi, provam uma bebida que tem a alma dessas pessoas.
Com uma estimativa de faturamento de R$ 220 milhões para 2021, 15% acima do ano passado, a cooperativa investe forte também na divulgação do espumante como uma bebida que não é limitada a comemorações, mas pode acompanhar uma refeição ou integrar uma receita. Para isso, patrocina o programa Masterchef e espalha a sua marca em diversas campanhas. “Nosso trabalho é mudar essa visão. Por causa dela, tivemos uma queda de mais de 50% nas vendas de espumantes em 2020. A pandemia acabou com as celebrações e o vinho virou o nosso grande companheiro quando estávamos fechados em casa. Essa imagem do espumante precisa mudar”, afirma Miguel.
Trabalhando pra isso, com mais de 80 itens no portfólio e um propósito nato e aplicado diariamente, não há dúvidas de que os números de premiações e de faturamento serão ainda maiores. Porém, é importante relembrar: faturamento e premiações não são o fim. São apenas um meio de seguir fazendo o que trouxe a Garibaldi até aqui e a levará em frente: melhorar a vida do associado.
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